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Epilepsia e Cannabis medicinal

Atualizado: 23 de ago. de 2024

Uma alternativa de tratamento segura e eficaz



Cannabinoides e Eplepsia


Desde 1980, vários ensaios clínicos evidenciam as propriedades anticonvulsivantes do CBD (canabidiol), o mais estudado dos canabinoides, que não possui psicoatividade. Esses estudos foram incentivados principalmente porque uma parcela da população que possui epilepsia é farmacorresistente (em torno de 70%), não respondendo aos tratamentos convencionais antiepilépticos. Nesses casos, a essa síndrome é classificada como epilepsia refratária. Essas pessoas encontram na Cannabis uma alternativa segura e eficiente para se tratar [1,2].


A epilepsia é uma síndrome neurológica crônica que se caracteriza por crises epiléticas recorrentes, presente em 1% da população mundial [2]. Quando essas crises ocorrem o cérebro apresenta uma atividade neuronal síncrona anormal ou excessiva. As manifestações clínicas podem ser a perda da consciência, às vezes bem breve, até espasmos incontroláveis [2,3,4].


O CBD é capaz de reduzir a frequência e a severidade das convulsões. Seus mecanismos de atuação ainda não estão totalmente elucidados. Seguem as hipóteses que os estudos atuais sugerem [5,6,7]


  • Modulação do Sistema Endocanabinoide (SEC): O SEC está presente em todo o nosso organismo, contendo majoritariamente dois receptores, CB1 e CB2, sendo CB1 mais presente no Sistema Nervoso Central e CB2 em órgãos, Sistema Imunológico, medula óssea e terminais nervosos periféricos. O CBD é capaz de interagir com esses receptores atuando como um modulador alostérico positivo, ou seja, aumentando a afinidade desses receptores pelos seus ligantes endógenos, que são os endocanabinóides, produzidos pelo nosso organismo, chamados N-aracdonoil etanolamina (Anandamida) e a 2-aracdonoil glicerol (2-AG). Quando isso acontece, os seguintes efeitos podem ocorrer: redução da excitação neural, diminuição da inflamação e aumento da inibição neuronal. Além de proteger contra danos neuronais.

  • Aumento dos níveis de GABA: O CBD pode aumentar os níveis de GABA, um neurotransmissor inibitório que participa do controle da atividade neural, ajudando a reduzir a excitação neuronal e ainda prevenir convulsões.

  • Redução da inflamação: as propriedades anti-inflamatórias do CBD ajudam a reduzir a inflamação cerebral, fator que contribui com a frequência e severidade das convulsões.

  • Regulação da apoptose: o CBD pode ajudar a proteger contra danos no cérebro pois é capaz de regular a apoptose, que é a morte celular programada.

  • Interação com outros canais iônicos como canais de cálcio e potássio, que também ajudam a regular a atividade neuronal e prevenir convulsões.

Nos casos de epilepsia, normalmente são indicados medicamentos CBD Broad Spectrum, que contém todos os componentes da planta menos o THC, ou o CBD isolado. Até aqui falamos apenas do CBD, mas é importante ressaltar que os existem outros canabinoides, flavonoides e terpenos na Cannabis sativa que em conjunto causam o efeito comitiva, quando um componente potencializa a ação de outro. Esse efeito comitiva é possível nos medicamentos Full-specrum ou Broad-spectrum, porém não no CBD isolado. O THC não é 100% descartado do tratamento para epilepsia. Em alguns casos, ele apresenta propriedade mais anticonvulsivante que o CBD. Cabe ao médico introduzir o THC em algum momento do tratamento [1,6,7].


Outro ponto a se destacar é sobre as interações medicamentosas. O CBD é capaz de inibir a enzima CYP219 que metaboliza a N-desmetilclobazam, presente em medicamentos como clobazam, gerando efeitos adversos [5]. Em geral os efeitos adversos podem sonolência, tontura, náusea, boca seca e fadiga, mas muitas vezes podem ser controlados com a dose a ser tomada. Portanto, ressaltamos aqui a importância do acompanhamento médico, não apenas para identificar interações medicamentosas mas também contraindicações do paciente [1,5].


Embora possam haver contraindicações e alguns poucos efeitos colaterais, o CBD é considerado um tratamento seguro e já validado para o tratamento de epilepsia. O tratamento sempre deve ser feito individualizando o paciente pois cada um vai ter uma suscetibilidade diferente, sempre iniciando com doses baixas e aumentar gradativamente até obter o efeito desejado [1]. Relembramos que no Brasil, para poder utilizar a Cannabis no tratamento da epilepsia, ela deve ser refratária para que a Anvisa libere a importação.


Referências bibliográficas


1) Ervilha, F. D. de O. e Oliveira, H. F. Desafios e avanços do uso do canabidiol no tratamento de pacientes portadores de epilepsia refratária: Uma revisão integrativa. Research, Society and Development, v. 12, n. 9, e5012943209, 2023. DOI: 10.33448/rsd-v12i9.43209


2) World Health Organization. https://www.who.int/en/news-room/fact-sheets/detail/epilepsy. Acesso em 2/2/2024


3) Chang, B. S. e Lowenstein, D. H. Epilepsy. The New England Journal of Medicine. v. 349 (13) p. 1257–66, 2003. DOI:10.1056/NEJMra022308


4) Fisher R. S. et al. ILAE official report: a practical clinical definition of epilepsy. Epilepsia, v. 55 (4), p. 475–82, 2014. DOI:10.1111/epi.12550


5) Chesney, E. et al. Adverse effects of cannabidiol: a systematic review and meta-analysis of randomized clinical trials. Neuropsychopharmacology, v. 45(11), p. 1799–1806, 2020. DOI: 10.1038/s41386-020-0667-2


6) Leo, A. et al. Cannabidiol and epilepsy: Rationale and therapeutic potential. Pharmacological Research, v. 107, p. 85-92, 2016. DOI:10.1016/j.phrs.2016.03.005


7) Gray, R. A. and Whalley, B. J. The proposed mechanisms of action of CBD in epilepsy. Epileptic Disord, v. 22, Supplement 1, 2020. DOI: 10.1684/epd.2020.1135




 
 
 

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